A Viagem (2012)


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Há muito tempo eu não postava aqui por um motivo um tanto prosaico. De uns meses pra cá, todos os filmes que eu assisti ou eram medianos o suficiente para não merecerem fazer parte dessa seleção de bostas ou eram bons, ou eram tão ruins, mas tão claramente ruins que eu nem quis me dar ao trabalho de assisti-los. Daí, advinda dessa seletividade mais cuidadosa, e do fato de que também aumentou bastante a oferta de seriados assistíveis sendo produzidos em face aos filmes em longa metragem, diminuiu bastante a quantidade de bostas aqui.
Todo esse parágrafo introdutório não quer dizer que o retorno não mereça um destaque especial. Pela primeira vez, este humilde blog recebe em seu material fecal uma bosta "grande". Por "bosta grande" entenda-se um filme com pedigree, grandes atores, diretor(es) consagrados, e toda uma campanha por trás para ser alçado à categoria de "filme do ano", imagine só. Trata-se de Cloud Atlas, "A Viagem" no Brasil. Não adiantou ser dirigido pelos irmãos Wachowski, da trilogia Matrix. Não adiantou estar recheado de bons atores, veteranos ou caras relativamente novas. Não adiantou ter uma história intrigante e um formato de storytelling pouco explorado. Não adiantou misturar o velho com o novo. O filme fracassa em todas as tentativas.
A parte das histórias de época, não oferece nada que já não tenhamos visto em O Mestre dos Mares ou Amistad. A parte do romance entre os dois rapazes e a ida de um deles para viver junto a um mestre da música tinha ecos de O Talentoso Ripley. A epopéia pós-apocalíptica de Tom Hanks nos lembra com certa tristeza o Waterworld de Kevin Costner, e Halle Berry com suas aventuras na pele de uma repórter nos anos 70, e as peripécias de Jim Broadbent tentando fugir de um asilo nos dias de hoje não seguram o filme. A despeito do talento e da qualidade comprovada do trabalho da maioria dos atores, não há o que fazer quando a direção tem a mão pesadíssima, o roteiro apresenta situações extremamente forçadas e a sensibilidade de alguns pontos da história é terrivelmente comprometida pela fragmentação da narrativa do próprio filme.
Outro ponto negativo (que deve ter parecido uma idéia excelente no papel, mas que o departamento de "vai dar merda" falhou em alertar) é a questão de colocar orientais fazendo papéis de ocidentais e vice-versa, amparados por uma das piores maquiagens que eu já vi nos últimos tempos. A coisa ficou tão canhestra que em certos pontos se para de prestar atenção ao desenvolvimento da história, pois a ruindade da maquiagem faz com que só se consiga reparar nisso. Levando-se em conta que é um filme caríssimo, de uma equipe que está acostumada a orçamentos astronômicos, este fato torna-se imperdoável.
Para fechar com chave de bosta, o que deveria ser o mais bem guardado e impactante segredo do filme, algo que poderia fazer muita diferença em termos de motivação da história, simplesmente é estragado por uma citação no próprio filme, que qualquer pessoa que tenha um conhecimento médio de cinema irá sacar, e voltar sua atenção para aquele fato, se não estragando a surpresa mais à frente, pelo menos enfraquecendo muito seu impacto.
Concluo dizendo que a pretensão é perigosa, e se ela é a força motriz por trás de um filme, o sério dele acabar virando um filme bosta é grande. Aconteceu com esse "A Viagem". Uma bosta!

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