Sob a Pele (2014)

under the skin Michel Faber Jonathan Glazer Scarlett Johansson movie sob a pele

É comum no cinema a criticar-se negativamente um filme que fica aquém do livro no qual é baseado. Em muitos casos de versões em filme para obras literárias, a transposição para a linguagem cinematográfica acaba adicionando elementos que incomodam e até deturpam o sentido do livro, gerando reações furiosas por parte de quem admirava a obra escrita. Mas o que acontece em Sob a Pele é algo bem mais raro: o filme ignora e esvazia vários conceitos presentes no romance Under the Skin, de Michel Faber, publicado em 2000.

Fica claro para quem conhece a obra original que esse esvaziamento é uma decisão criativa do diretor, que parece mais interessado em promover uma experiência de arte conceitual do que em fazer um filme de ficção científica. Em vários momentos do filme me deparei com aquela desconfortável sensação de estar em uma bienal, olhando uma obra completamente banal (e talvez até concebida intencionalmente assim), mas que todos à minha volta tentam me convencer de que é uma forma elevada de arte. E talvez a maior qualidade desse filme seja o fato de que por mais que o resultado final tenha sido a meu ver ruim e falho, essa sensação de não sabermos se é de fato interessante ou uma bosta quente e fumegante permanece até depois de terminarmos de assisti-lo.

É comum existir toda uma claque que se apressa em aplaudir de forma incondicional filmes onde se usa certos graus de experimentalismo e a estilização como matéria prima única (ou largamente principal), pelo simples fato de serem feitos dessa forma, antes mesmo (ou em vez) de admitir-se serem bons de fato ou não. Para esse tipo de público, esse filme é um prato cheio. Os vazios narrativos e a falta de elementos (elementos simples que o livro possui e que sequer chegaram a ser usados) no roteiro do filme permite que as interpretações mais loucas e pseudoartísticas sejam inseridas ao bel-prazer do fã.

Para quem prefere mais estrutura narrativa, ou acha que experiências mais estéticas que cinematográficas tentando plagiar Stanley Kubrick (independente se boas ou não) ainda são muito pouco para sustentar um filme, recomendo o livro. Ao menos na leitura da obra original, se consegue mistério e propósito, ambos conceitos por demais esvaziados no filme.

Um Sam Mendes ou Paul W. S. Anderson teriam feito obras-primas a partir desse livro. Mas no caso deste diretor, ficou uma bosta.

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